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Perspectiva Católica

O Catequista

Igreja

sábado, 20 de junho de 2015

A ideologia do Gênero e a descontrução da família

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Catequese do Papa: misérias sociais que afetam as famílias

Catequese do Papa: misérias sociais que afetam as famílias


brasão do Papa Francisco
CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 3 de junho de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nestas quartas-feiras temos refletido sobre família e sigamos adiante neste tema, refletir sobre família. E a partir de hoje, as nossas catequeses se abrem, com a reflexão à consideração da vulnerabilidade que tem a família, nas condições da vida que a colocam à prova. A família tem tantos problemas que a colocam à prova.
Uma dessas provas é a pobreza. Pensemos em tantas famílias que povoam as periferias das megalópoles, mas também nas zonas rurais. Quanta miséria, quanta degradação! E depois, para piorar a situação, em alguns lugares chega também a guerra. A guerra é sempre uma coisa terrível. Essa também afeta especialmente as populações civis, as famílias. Realmente a guerra é a “mãe de todas as pobrezas”, a guerra empobrece a família, uma grande predadora de vidas, de almas e dos afetos mais sagrados e mais queridos.
Apesar disso tudo, há tantas famílias pobres que com dignidade procuram conduzir a sua vida cotidiana, muitas vezes confiando abertamente na benção de Deus. Esta lição, porém, não deve justificar a nossa indiferença, mas sim aumentar a nossa vergonha pelo fato de existir tanta pobreza! É quase um milagre que, mesmo na pobreza, a família continua a se formar e até mesmo a conservar – como pode – a especial humanidade das suas relações. O fato irrita aqueles planejadores de bem-estar que consideram os afetos, as relações familiares como uma variável secundária da qualidade de vida. Não entendem nada! Em vez disso, nós deveríamos nos ajoelhar diante dessas famílias que são uma verdadeira escola de humanidade que salva a sociedade das barbáries.
O que nos resta, de fato, se cedemos à chantagem de César e do Dinheiro, da violência e do dinheiro, e renunciamos também aos afetos familiares? Uma nova ética civil chegará somente quando os responsáveis da vida pública reorganizarem os laços sociais a partir da luta contra a espiral perversa entre família e pobreza, que nos leva ao abismo.
A economia de hoje muitas vezes é especializada no gozo do bem-estar individual, mas pratica largamente a exploração dos laços familiares. Esta é uma contradição grave! O imenso trabalho da família não é cotado nos balanços financeiros, naturalmente! De fato, a economia e a política são mesquinhas de reconhecimento a tal respeito. No entanto, a formação interior da pessoa e a circulação social dos afetos têm justamente ali o seu pilar. Se os tiram, tudo vem a baixo.
Não é somente questão de dinheiro. Falamos de trabalho, falamos de educação, falamos de saúde. É importante entender bem isso. Ficamos sempre muito comovidos quando vemos imagens das crianças desnutridas e doentes, que são mostradas para nós em tantas partes do mundo. Ao mesmo tempo, também nos comove muito o olhar brilhante de muitas crianças, privadas de tudo, que estão em escolas feitas de nada, quando mostram com orgulho sua caneta e o seu caderno. E como olham com amor o seu professor ou a sua professora! Realmente, as crianças sabem que o homem não vive só de pão! Mesmo o afeto familiar; quando há a miséria as crianças sofrem, porque elas querem o amor, as relações familiares.
Nós cristãos devemos estar sempre mais próximos às famílias que a pobreza coloca à prova. Mas pensem, todos vocês conhecem alguém: um pai sem trabalho, uma mãe sem trabalho…e a família sofre, as relações se enfraquecem. Isso é ruim. De fato, a miséria social atinge a família e às vezes a destroi. A falta ou a perda de trabalho, ou a sua forte precariedade, incidem pesadamente sobre a vida familiar, colocando à dura prova as relações. As condições de vida nos bairros mais desfavorecidos, com os problemas de habitação e de transportes, bem como a redução dos serviços sociais, de saúde, de escola, causam dificuldades. A estes fatores materiais se soma o dano causado à família pelos pseudo-modelos, difundidos pelos meios de comunicação baseados no consumismo e o culto da aparência, que influenciam as classes sociais mais pobres e incrementam a desagregação das relações familiares. Cuidar das famílias, cuidar do afeto, quando a miséria coloca a família à prova!
A Igreja é mãe e não deve esquecer este drama dos seus filhos. Também essa deve ser pobre, para se tornar fecunda e responder a tanta miséria. Uma Igreja pobre é uma Igreja que pratica uma simplicidade voluntária na própria vida – nas suas próprias instituições, no estilo de vida dos seus membros – para abater todo muro de separação, sobretudo dos pobres. É preciso oração e ação. Rezemos intensamente ao Senhor, que nos sacode, para tornar as nossas famílias cristãs protagonistas desta revolução da proximidade familiar, que agora é tão necessária! Dessa, dessa proximidade familiar, desde o início, é feita a Igreja. E não esqueçamos que o julgamento dos necessitados, dos pequenos e dos pobres antecipa o julgamento de Deus (Mt 25, 31-46). Não esqueçamos isso e façamos tudo aquilo que podemos para ajudar as famílias a seguir adiante na provação da pobreza e da miséria que atingem os afetos, as relações familiares. Eu gostaria de ler outra vez o texto da Bíblia que escutamos no início e cada um de nós pense nas famílias que são provadas pela miséria e pela pobreza, a Bíblia diz assim: “Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvieis os olhos. Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência. Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria; não rejeiteis o pedido do aflito, não desvieis o rosto do pobre. Não desvieis os olhos do indigente, para que ele não se zangue” (Eclo 4,1-5a). Porque isso será aquilo que fará o Senhor – o diz no Evangelho – se não fazemos essas coisas.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Catequese do Papa Francisco sobre o noivado

Catequese do Papa Francisco sobre o noivado 

brasão do Papa Francisco

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 27 de maio de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo estas catequeses sobre família, hoje gostaria de falar sobre o noivado. O noivado – se ouve na palavra – tem que ser feito com a confiança, a confidência, a confiabilidade. A confidência com a vocação que Deus dá, porque o matrimônio é, antes de tudo, a descoberta de um chamado de Deus. Certamente é uma coisa bonita que hoje os jovens possam escolher se casar na base de um amor recíproco. Mas justamente a liberdade da relação requer uma consciente harmonia da decisão, não somente uma simples compreensão da atração ou do sentimento, de um momento, de um tempo breve…requer um caminho.
O noivado, em outros termos, é o tempo no qual as duas pessoas são chamadas a fazer um bom trabalho sobre o amor, um trabalho participativo e partilhado, que vai em profundidade. Veem uns aos outros: isso é, o homem “aprende” a mulher aprendendo esta mulher, a sua noiva; e a mulher “aprende” o homem aprendendo este homem, o seu noivo. Não desvalorizemos a importância deste aprendizado: é um empenho belo, e o próprio amor pede isso, porque não é somente uma felicidade despreocupada, uma emoção encantada… O relato bíblico fala de toda a criação como de um belo trabalho do amor de Deus; o livro do Gênesis diz que “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que era tudo muito bom” (Gen 1, 31). Somente no fim Deus descansou. Desta imagem entendemos que o amor de Deus, que deu origem ao mundo, não foi uma decisão de improviso. Não! Foi um trabalho belo. O amor de Deus criou as condições concretas de uma aliança irrevogável, sólida, destinada a durar.
A aliança do amor entre o homem e a mulher, aliança para a vida, não se improvisa, não se faz de um dia para o outro. Não há o matrimônio express: é preciso trabalhar sobre o amor, é preciso caminhar. A aliança do amor do homem e da mulher é aprendida e afinada. Permito-me dizer que é uma aliança artesanal. Fazer de duas vidas uma só é também quase um milagre, um milagre da liberdade e do coração, confiado à fé. Devemos nos empenhar mais sobre esse ponto, porque as nossas “coordenadas sentimentais” ficaram um pouco confusas. Quem pretende querer saber tudo e logo, depois cede também sobre tudo – e logo – na primeira dificuldade (ou na primeira ocasião). Não há esperança para a confiança e a fidelidade da doação de si se prevalece o hábito de consumir o amor como uma espécie de “integrador” do bem-estar psico-físico. O amor não é isso! O noivado coloca no foco a vontade de proteger junto algo que nunca deverá ser comprado ou vendido, traído ou abandonado, por mais tentadora que possa ser a oferta. Mas também Deus, quando fala da aliança com o seu povo, faz algumas vezes em termos de noivado. No Livro de Jeremias, falando ao seu povo que tinha se afastado Dele, recorda-lhe que o povo era a “noiva” de Deus e diz assim: “Lembro-me de tua afeição quando eras jovem, de teu amor de noivado” (2, 2). E Deus fez esse percurso de noivado; depois faz também uma promessa: ouvimos no início da audiência, no Livro de Oseias: “Desposar-te-ei para sempre, desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com benevolência e ternura. Desposar-te-ei com fidelidade e conhecerás o Senhor” (2, 21-22). É um longo caminho que o Senhor faz com o seu povo neste caminho de noivado. No fim, Deus esposa o seu povo em Jesus Cristo: esposa em Jesus a Igreja. O povo de Deus é a esposa de Jesus. Mas quanto caminho! E vocês italianos, na sua literatura, têm uma obra-prima sobre noivado, “Os noivos”. É necessário que os noivos a conheçam, que a leiam; é uma obra-prima onde se conta a história dos noivos que sofreram tanta dor, fizeram um caminho de tantas dificuldades até chegar ao fim, ao matrimônio. Não deixem de lado esta obra-prima sobre noivado que a literatura italiana oferece a vocês. Sigam adiante e vejam a beleza, o sofrimento mas também a fidelidade dos noivos.
A Igreja, na sua sabedoria, protege a distinção entre ser noivos e ser esposos – não é o mesmo – justamente em vista da delicadeza e da profundidade desta verificação. Estamos atentos para não desprezar levemente este sábio ensinamento que se alimenta também com a experiência do amor conjugal felizmente vivido. Os símbolos fortes do corpo detêm as chaves da alma: não podemos tratar as ligações da carne levemente, sem abrir qualquer ferida duradoura no espírito (1 Cor 6, 15-20).
Certo, a cultura e a sociedade de hoje se tornaram bastante indiferentes à delicadeza e à seriedade desta passagem. E por outro lado, não se pode dizer que sejam generosas com os jovens que estão seriamente intencionados a ter uma casa e colocar os filhos no mundo! Antes, muitas vezes, colocam mil obstáculos, mentalidades e práticas. O noivado é um percurso de vida que deve amadurecer como a fruta, é um caminho de amadurecimento no amor, até o momento em que se torna matrimônio.
Os cursos pré-matrimoniais são uma expressão especial da preparação. E nós vemos tantos casais, que talvez chegam ao curso um pouco conta a vontade, “Mas estes padres nos fazem fazer um curso! Mas por que? Nós sabemos!”…e vão contra a vontade. Mas depois ficam contentes e agradecem, porque de fato encontraram ali a ocasião – muitas vezes a única! – para refletir sobre sua experiência em termos não banais. Sim, muitos casais estão juntos há tanto tempo, talvez também na intimidade, às vezes convivendo, mas não se conhecem verdadeiramente. Parece estranho, mas a experiência demonstra que é assim. Por isso, deve ser re-avaliado o noivado como tempo de conhecimento recíproco e de partilha de um projeto. O caminho de preparação ao matrimônio deve ser colocado nesta perspectiva, valendo-se também do testemunho simples mas intenso de casais cristãos. E apontando também aqui sobre o essencial: a Bíblia, a redescobrir juntos, de maneira consciente; a oração, na sua dimensão litúrgica, mas também naquela “oração doméstica”, a viver em família, os sacramentos, a vida sacramental, a Confissão, a Comunhão em que o Senhor vem a habitar nos noivos e os prepara para se acolherem verdadeiramente um ao outro “com a graça de Cristo”; e a fraternidade com os pobres, com os necessitados, que nos provocam à sobriedade e à partilha. Os noivos que se empenham nisso crescem ambos e tudo isso leva a preparar uma bela celebração do Matrimônio de modo diferente, não mundano, mas de modo cristão! Pensemos nestas palavras de Deus que ouvimos quando Ele fala ao seu povo como o noivo à noiva: “Desposar-te-ei para sempre, desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com benevolência e ternura. Desposar-te-ei com fidelidade e conhecerás o Senhor” (Os 2, 21-22). Cada casal de noivos pense nisso e diga um ao outro: “Te farei minha esposa, te farei meu esposo”. Esperar aquele momento; é um momento, é um percurso que vai lentamente adiante, mas é um percurso de amadurecimento. As etapas do caminho não devem ser queimadas. O amadurecimento se faz assim, passo a passo.
O tempo de noivado pode se tornar realmente um tempo de iniciação, para que? Para a surpresa! Para a surpresa dos dons espirituais com os quais o Senhor, por meio da Igreja, enriquece o horizonte da nova família que se dispõe a viver na sua benção. Agora eu vos convido a rezar à Sagrada Família de Nazaré: Jesus, José e Maria. Rezar para que a família faça este caminho de preparação; rezar pelos noivos. Rezemos à Nossa Senhora, todos juntos, uma Ave Maria por todos os noivos, para que possam entender a beleza deste caminho rumo ao Matrimônio. [Ave Maria…]. E aos noivos que estão na Praça: “Bom caminho de noivado!”.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Catequese do Papa sobre a educação dos filhos


Catequese do Papa sobre a educação dos filhos 



brasão do Papa Francisco
CATEQUESE

Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 20 de maio de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal – equipe CN Notícias
Hoje, queridos irmãos e irmãs, desejo dar-vos as boas vindas porque vi entre vocês tantas famílias, bom dia a todas as famílias! Continuamos a refletir sobre família. Hoje nos concentraremos em refletir sobre uma característica essencial da família, ou seja, a sua vocação natural para educar os filhos para que cresçam na responsabilidade de si e dos outros. Aquilo que ouvimos do apóstolo Paulo, no início, é tão belo: “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isso agrada ao Senhor. Pais, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados” (Col 3, 20-21). Esta é uma regra sábia: o filho que é educado a escutar os pais e a obedecer aos pais, os quais não devem operar de maneira bruta, para não desanimar os filhos. Os filhos, de fato, devem crescer sem se desanimar, passo a passo. Se vocês pais dizem aos seus filhos: “Vamos subir nessa escada” e pegam a mão deles e passo após passo os fazem subir, as coisas irão bem. Mas se vocês dizem: “Vá em frente!” – “Mas não posso” – “Vá!”, isso se chama irritar os filhos, pedir aos filhos as coisas que não são capazes de fazer. Por isso, a relação entre pais e filhos deve ser de uma sabedoria, de um equilíbrio tão grande. Filhos, obedeçam aos pais, isso agrada a Deus. E vocês pais, não irritem os filhos, pedindo-lhes coisas que não podem fazer. E isso é necessário ser feito para que os filhos cresçam na responsabilidade de si e dos outros.
Pareceria uma constatação óbvia, mas mesmo nos nossos tempos não faltam as dificuldades. É difícil educar para os pais que veem os filhos somente à noite, quando voltam para casa cansados do trabalho. Aqueles que têm a sorte de ter um trabalho! É ainda mais difícil para os pais separados, que estão pesarosos com esta condição: coitados, tiveram dificuldade, se separaram e tantas vezes o filho é tomado como um refém e o pai fala mal da mãe e a mãe fala mal do pai, e isso faz tanto mal. Mas eu digo aos pais separados: nunca, nunca, nunca tomem o filho como refém! Vocês se separaram por tantas dificuldades e motivos, a vida deu essa prova a vocês, mas os filhos não sejam os que levam o peso dessa separação, não sejam usados como reféns contra o outro cônjuge, cresçam ouvindo que a mãe fala bem do pai, embora não estejam juntos, e que o pai fala bem da mãe. Para os pais separados, isso é muito importante e muito difícil, mas podem fazê-lo.
Mas, sobretudo, a pergunta: como educar? Quais tradições temos hoje para transmitir aos nossos filhos?
Intelectuais “críticos” de todo tipo silenciaram os pais de mil modos, para defender as jovens gerações de danos – verdadeiros ou presumidos – da educação familiar. A família foi acusada, entre outros, de autoritarismo, de favoritismo, de conformismo, de repressão afetiva que gera conflitos.
De fato, se abriu uma fratura entre família e sociedade, entre família e escola, o pacto educativo hoje se rompeu; e assim, a aliança educativa da sociedade com a família entrou em crise porque foi ameaçada a confiança recíproca. Os sintomas são muitos. Por exemplo, na escola, foram afetadas as relações entre os pais e os professores. Às vezes, há tensões e desconfiança recíproca, e as consequências naturalmente caem sobre os filhos. Por outro lado, se multiplicaram os chamados “especialistas”, que ocuparam o papel dos pais também nos aspectos mais íntimos da educação. Sobre a vida afetiva, sobre personalidade e o desenvolvimento, sobre direitos e sobre deveres, os “especialistas” sabem tudo: objetivos, motivações, técnicas. E os pais devem somente escutar, aprender e se adequar. Privados do seu papel, esses se tornam muitas vezes excessivamente apreensivos e possessivos nos confrontos com seus filhos, até não os corrigir nunca: “Você não pode corrigir o filho”. Tendem a confiá-los sempre mais aos “especialistas”, também sobre os aspectos mais delicados e pessoais da vida, colocando-os no canto sozinhos; e assim os pais hoje correm o risco de se auto-excluir da vida os seus filhos. E isso é gravíssimo! Hoje, há casos deste tipo. Não digo que acontece sempre, mas há. A professora na escola reprova o menino e faz uma anotação para os pais. Eu recordo um acontecimento pessoal. Uma vez, quando eu estava na quarta série, disse uma palavra feia para a professora e ela, uma mulher brava, chamou minha mãe. Ela foi no dia seguinte, falaram entre si e depois fui chamado. E minha mãe, diante da professora, me explicou que aquilo que eu fiz foi uma coisa ruim, que não se devia fazer; mas a mãe o fez com tanta doçura e me pediu para pedir perdão diante dela à professora. Eu o fiz e depois fiquei contente porque disse: terminou bem a história. Mas aquele era o primeiro capítulo! Quando voltei pra casa, comecei o segundo capítulo…Imaginem vocês, se a professora faz uma coisa desse tipo, no dia seguinte os dois pais ou um deles a reprova, porque os “especialistas” dizem que as crianças não devem ser repreendidas assim. As coisas mudaram! Portanto, os pais não devem se auto-excluir da educação dos filhos.
É evidente que esta abordagem não é boa: não é harmônica, não é dialógica e em vez de favorecer a colaboração entre a família e as outras agências educativas, as escolas, as palestras…as contrapõem.
Como chegamos a esse ponto? Não há dúvidas de que os pais, ou melhor, certos modelos educativos do passado tinham alguns limites, não há dúvida. Mas é também verdade que há erros que somente os pais são autorizados a fazer, porque podem compensá-los de um modo que é impossível a qualquer outro. Por outro lado, sabemos bem disso, a vida se tornou mesquinha de tempo para falar, refletir, confrontar-se. Muitos pais são “sequestrados” pelo trabalho – pai e mãe devem trabalhar – e por outras preocupações, envergonhados por novas exigências dos filhos e pela complexidade da vida atual – que é assim, devemos aceitá-la como é – e se encontram meio que paralisados pelo medo de errar. O problema, porém, não é só falar. Antes, um “dialoguismo” superficial não leva a um verdadeiro encontro da mente e do coração. Perguntemo-nos, em vez disso: procuramos entender “onde” os filhos estão verdadeiramente em seu caminho? Onde está realmente a alma deles, sabemos? E sobretudo: queremos saber? Estamos convencidos de que esses, na realidade, não esperam outra coisa?
As comunidades cristãs são chamadas a oferecer apoio à missão educativa das famílias, e o fazem antes de tudo com a luz da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo recorda a reciprocidade dos deveres entre pais e filhos: “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isso agrada ao Senhor. Pais, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados” (Col 3, 20-21). Na base de tudo está o amor, aquele que Deus nos dá, que “não falta com respeito, não procura o próprio interesse, não fica com raiva, não faz conta do mal recebido…tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13, 5-6). Mesmo nas melhores famílias é preciso suportar-se e é preciso tanta paciência para se suportar! Mas a vida é assim. A vida não se faz em laboratório, se faz na realidade. O próprio Jesus passou pela educação familiar. Também nesse caso, a graça do amor de Cristo leva à realização isso que está inscrito na natureza humana. Quantos exemplos maravilhosos temos de pais cristãos cheios de sabedoria humana! Esses mostram que a boa educação familiar é a coluna vertebral do humanismo. A sua irradiação social é o recurso que permite compensar as lacunas, as feridas, os vazios de paternidade e maternidade que tocam os filhos menos afortunados. Essa irradiação pode fazer autênticos milagres. E na Igreja acontecem todos os dias estes milagres!
Desejo que o Senhor dê às famílias cristãs a fé, a liberdade e a coragem necessárias para a sua missão. Se a educação familiar encontra o orgulho do seu protagonismo, muitas coisas mudarão para melhor, para os pais incertos e para os filhos desiludidos. É hora dos pais e das mães retornarem do seu exílio – porque se exilaram da educação dos filhos – e reassumirem plenamente o seu papel educativo. Esperamos que o Senhor dê aos pais esta graça: de não se auto-exilar na educação dos filhos. E isto somente o amor, a ternura e a paciência podem fazer.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Catequese do Papa: três palavras para a paz na família

Catequese do Papa: três palavras para a paz na família

brasão do Papa Francisco
CATEQUESE

Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 13 de maio de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal – equipe CN Notícias
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje é como a porta de ingresso de uma série de reflexões sobre a vida da família, a sua vida real, com os seus tempos e os seus acontecimentos. Sobre esta porta de ingresso estão inscritas três palavras que já utilizei aqui na Praça diversas vezes. E estas palavras são “licença”, “obrigado”, desculpa”. De fato, estas palavras abrem o caminho para viver bem na família, para viver em paz. São palavras simples, mas não são assim tão simples de colocar em prática! Requerem uma grande força: a força de proteger a casa, também através de mil dificuldades e provações; em vez disso, a falta delas, pouco a pouco, abre rachaduras que podem fazê-la desmoronar.
Nós as entendemos normalmente como as palavras da “boa educação”. Tudo bem, uma pessoa bem educada pede licença, diz obrigado ou se desculpa se erra. Tudo bem, mas a boa educação é muito importante. Um grande bispo, São Francisco de Sales, dizia que “a boa educação é já meia santidade”. Porém, atenção, na história conhecemos também um formalismo das boas maneiras que pode se tornar máscara que esconde a aridez da alma e o desinteresse pelo outro. Há um ditado que diz: “Atrás de boas maneiras se escondem maus hábitos”. Nem mesmo as religiões estão imunes a este risco, que faz escorregar a observância formal na mundanidade espiritual. O diabo que tenta Jesus jorra boas maneiras – é propriamente um senhor, um cavalheiro – e cita as Sagradas Escrituras, parece um teólogo. O seu estilo parece correto, mas a sua intenção é aquela de desviar da verdade do amor de Deus. Nós, em vez disso, entendemos a boa educação nos seus termos autênticos, onde o estilo das boas relações é firmemente enraizado no amor do bem e no respeito do outro. A família vive esta fineza do querer bem.
Vejamos: a primeira palavra é “licença?”. Quando nos preocupamos de pedir gentilmente também aquilo que talvez pensamos poder esperar, nós colocamos uma verdadeira proteção para o espírito da convivência matrimonial e familiar. Entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa vida, pede a delicadeza de uma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito. A intimidade, em suma, não autoriza a dar tudo por certo. E o amor, quanto mais íntimo e profundo, tanto mais exige o respeito da liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração. A este propósito, recordamos aquela palavra de Jesus no livro do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo” (3, 20). Também o Senhor pede a permissão para entrar! Não esqueçamos isso. Antes de fazer uma coisa em família: “Licença, posso fazê-lo? Agrada-te que eu faça assim?”. Aquela linguagem propriamente educada, mas cheia de amor. E isso faz tão bem às famílias
A segunda palavra é “obrigado”. Certas vezes é de se pensar que estamos nos tornando uma civilização das más maneiras e das más palavras, como se fossem um sinal de emancipação. Ouvimos dizer isso tantas vezes também publicamente. A gentileza e a capacidade de agradecer são vistas como um sinal de fraqueza, às vezes levanta suspeita. Esta tendência deve ser combatida no seio da própria família. Devemos nos tornar intransigentes na educação à gratidão, ao reconhecimento: a dignidade da pessoa e a justiça social passam por aqui. Se a vida familiar subestima esse estilo, a vida social também o perderá. A gratidão, então, para quem crê, está no coração da fé: um cristão que não sabe agradecer é alguém que esqueceu a linguagem de Deus. É ruim isto! Recordemos a pergunta de Jesus, quando curou dez leprosos e somente um deles voltou para agradecer (cfr Lc 17, 18). Uma vez ouvi dizer de uma pessoa idosa, muito sábia, muito boa, simples, mas com aquela sabedoria da piedade, da vida: “A gratidão é uma planta que cresce somente na terra de almas nobres”. Aquela nobreza da alma, aquela graça de Deus na alma nos impele a dizer obrigada à gratidão. É a flor de uma alma nobre. É uma bela coisa isso.
A terceira palavra é “desculpa”. Palavra difícil, certo, ainda assim necessária. Quando falta, pequenas rachaduras se alargam – mesmo sem querê-lo – até se tornar rachaduras profundas. Não por nada na oração ensinada por Jesus, o “Pai Nosso”, que resume todas as perguntas essenciais para a nossa vida, encontramos essa expressão: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12). Reconhecer ter faltado e ter o desejo de restituir o que foi tirado – respeito, sinceridade, amor – torna-se digno do perdão. E assim se para a infecção. Se não somos capazes de nos desculpar, quer dizer que nem mesmo somos capazes de perdoar. Na casa onde não se pede desculpa começa a faltar o ar, as águas se tornam estagnadas. Tantas feridas dos afetos, tantas lacerações nas famílias começam com a perda desta palavra preciosa: “Desculpe”. Na vida matrimonial se briga tantas vezes… também “voam os pratos”, mas vos dou um conselho: nunca terminar o dia sem fazer as pazes. Ouçam bem: vocês brigam, marido e mulher? Filhos com os pais? Brigaram feio? Não é bom, mas este não é o problema. O problema é que este sentimento esteja conosco ainda um dia depois. Por isso, se brigaram, nunca terminem o dia sem fazer as pazes em família. E como devo fazer a paz? Colocar-me de joelhos? Não! Somente um pequeno gesto, uma coisinha faz a harmonia familiar voltar. Basta uma carícia, sem palavras. Mas nunca termine o dia em família sem fazer a paz. Entenderam isso? Não é fácil, mas se deve fazer. E com isso a vida será mais bela. E por isso é suficiente um pequeno gesto.
Estas três palavras-chave da família são palavras simples, e talvez em um primeiro momento nos farão sorrir. Mas quando as esquecemos, não há mais nada de que sorrir, verdade? A nossa educação, talvez, as negligencia um pouco. Que o Senhor nos ajude a colocá-las no lugar correto, no nosso coração, na nossa casa e também na nossa convivência civil. São as palavras para entrar justamente no amor da família.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Catequese do Papa sobre a beleza do matrimônio

Catequese do Papa sobre a beleza do matrimônio 

brasão do Papa Francisco
CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 6 de maio de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso caminho de catequese sobre família, tocamos hoje diretamente na beleza do matrimônio cristão. Esse não é simplesmente uma cerimônia que se faz na igreja, com flores, roupas, fotos…O matrimônio cristão é um sacramento que se realiza na Igreja e que também faz a Igreja, dando início a uma nova comunidade familiar.
É aquilo que o apóstolo Paulo resume na sua célebre expressão: “Este mistério é grande, quero dizer com referência a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 32). Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo afirma que o amor entre os cônjuges é imagem do amor entre Cristo e a Igreja. Uma dignidade impensável! Mas na realidade, está inscrita no desígnio criador de Deus e com a graça de Cristo inumeráveis casais cristãos, mesmo com seus limites, seus pecados, realizaram-na!
São Paulo, falando da nova vida em Cristo, diz que os cristãos – todos – são chamados a se amar como Cristo os amou, isso é, “sujeitando-se uns aos outros” (Ef 5, 21), que significa a serviço uns dos outros. E aqui introduz a analogia entre o casal marido-mulher e aquela Cristo-Igreja. É claro que se trata de uma analogia imperfeita, mas devemos colher o sentido espiritual que é altíssimo e revolucionário, e ao mesmo tempo simples, ao alcance de cada homem e mulher que se confiam à graça de Deus.
O marido – diz Paulo – deve amar a esposa “como ao próprio corpo” (Ef 5, 28); amá-la como Cristo “amou a Igreja e se entregou por ela” (v. 25). Mas vocês maridos que estão aqui presentes entendem isso? Amar as suas esposas como Cristo ama a Igreja? Isso não é brincadeira, mas coisa séria! O efeito deste radicalismo da dedicação pedida ao homem, para o amor e a dignidade da mulher, a exemplo de Cristo, deve ter sido enorme, na própria comunidade cristã.
Esta semente da novidade evangélica, que restabelece a originária reciprocidade da dedicação e do respeito, amadureceu lentamente na história, mas no final prevaleceu.
O sacramento do matrimônio é um grande ato de fé e de amor: testemunha a coragem de acreditar na beleza do ato criador de Deus e de viver aquele amor que leva a ir sempre além, além de si mesmo e também além da própria família. A vocação cristã a amar sem reservas e sem medida é o que, com a graça de Cristo, está na base do livre consentimento que constitui o matrimônio.
A própria Igreja está plenamente envolvida na história de cada matrimônio cristão: edifica-se em seus sucessos e sofre em seus fracassos. Mas devemos nos perguntar com seriedade: aceitamos até o fundo, nós mesmos, como crentes e como pastores, também essa ligação indissolúvel da história de Cristo e da Igreja com a história do matrimônio e da família humana? Estamos dispostos a assumir seriamente esta responsabilidade, isso é, que todo matrimônio vai no caminho do amor que Cristo tem com a Igreja? É grande isto!
Nesta profundidade do mistério da criação, reconhecido e restabelecido na sua pureza, abre-se um segundo grande horizonte que caracteriza o sacramento do matrimônio. A decisão de “casar-se no Senhor” contém também uma dimensão missionária, que significa ter no coração a disponibilidade de fazer-se meio da benção de Deus e da graça do Senhor para todos. De fato, os esposos cristãos participam, como esposos, da missão da Igreja. É preciso coragem para isto! Por isso quando eu saúdo os recém-casados, digo: ‘Eis os corajosos’!, porque é preciso coragem para amar-se assim como Cristo ama a Igreja.
A celebração do sacramento não pode deixar de fora essa co-responsabilidade da vida familiar no confronto da grande missão de amor da Igreja. E assim a vida da Igreja se enriquece toda vez com a beleza desta aliança conjugal, bem como se empobrece toda vez que esta é deteriorada. A Igreja, para oferecer a todos os dons da fé, do amor e da esperança, precisa também da corajosa fidelidade dos esposos para a graça do seu sacramento! O povo de Deus precisa do seu cotidiano caminho na fé, no amor e na esperança, com todas as alegrias e cansaços que este caminho comporta em um matrimônio e em uma família.
A rota é, assim, marcada para sempre, é a rota do amor: se ama como Deus ama, para sempre. Cristo não cessa de cuidar da Igreja: a ama sempre, a protege sempre, como a si mesmo. Cristo não cessa de tirar da face humana as manchas e as rugas de todo tipo. É comovente e tão bonita esta irradiação da força e da ternura de Deus que se transmite de casal a casal, de família a família. São Paulo tem razão: este é propriamente um “mistério grande”! Homens e mulheres, corajosos o suficiente para levar este tesouro nos ‘vasos de argila’ da nossa humanidade, são – estes homens e estas mulheres corajosos – são um recurso essencial para a Igreja, também para todo o mundo! Deus os abençoe mil vez por isso!

domingo, 7 de junho de 2015

Catequese do Papa Francisco sobre o matrimônio


Catequese do Papa Francisco sobre o matrimônio 



brasão do Papa FranciscoCATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 29 de abril de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A nossa reflexão sobre o desígnio originário de Deus sobre o casal homem-mulher, depois de ter considerado as narrações de Gênesis, dirige-se agora diretamente a Jesus.
O evangelista João, no início do seu Evangelho, narra o episódio das bodas de Caná, na qual estavam presentes a Virgem Maria e Jesus, com os seus primeiros discípulos (cfr Jo 2, 1-11). Jesus não somente participou daquele matrimônio, mas “salvou a festa” com o milagre do vinho! Então, o primeiro dos seus sinais prodigiosos, com que Ele revela a sua glória, realizou-o no contexto de um matrimônio, e foi um gesto de grande simpatia por aquela nascente família, solicitado pelo cuidado maternal de Maria. Isto nos faz recordar o livro do Gênesis, quando Deus termina a obra da criação e faz a sua obra-prima; a obra-prima é o homem e a mulher. E aqui Jesus começa justamente os seus milagres com esta obra-prima, em um matrimônio, em uma festa de bodas: um homem e uma mulher. Assim Jesus nos ensina que a obra-prima da sociedade é a família: o homem e a mulher que se amam! Esta é a obra-prima!
Dos tempos das bodas de Caná, tantas coisas mudaram, mas aquele “sinal” de Cristo contém uma mensagem sempre válida.
Hoje não parece fácil falar do matrimônio como de uma festa que se renova no tempo, nas diversas épocas de toda a vida dos cônjuges. É um fato que as pessoas que se casam são sempre menos; este é um fato: os jovens não querem se casar. Em muitos países, em vez disso, aumenta o número de separações, enquanto diminui o número de filhos. A dificuldade em permanecer junto – seja como casal, seja como família – leva a romper os laços com sempre maior frequência e rapidez, e justamente os filhos são os primeiros a suportar as consequências. Pensemos que as primeiras vítimas, as vítimas mais importantes que sofrem mais em uma separação são os filhos. Se você experimenta, desde pequeno, que o casamento é um laço ‘por tempo determinado’, inconscientemente para você será assim. Na verdade, muitos jovens são levados a renunciar ao projeto para si mesmo de um laço irrevogável e de uma família duradoura. Creio que devemos refletir com grande seriedade sobre o porquê tantos jovens “não se sentem” para casar. Esta é uma cultura do provisório… tudo é provisório, parece que não há algo de definitivo.
Esta dos jovens que não querem se casar é uma das preocupações que emergem aos dias de hoje: porque os jovens não se casam? ; por que muitas vezes preferem uma convivência e tantas vezes a responsabilidade limitada? ; por que muitos – mesmo entre os batizados – têm pouca confiança no matrimônio e na família? É importante procurar entender, se queremos que os jovens possam encontrar o caminho justo a percorrer. Por que não têm confiança na família?
As dificuldades não são só de caráter econômico, embora estas sejam realmente sérias. Muitos acreditam que a mudança ocorrida nestas últimas décadas foram colocadas em movimento pela emancipação da mulher. Mas nem mesmo esse argumento é válido, é uma falsidade, não é verdade! É uma forma de machismo, que sempre quer dominar a mulher. Fazemos a bruta figura que fez Adão quando Deus lhe disse: “Mas por que você comeu o fruto da árvore?” e ele: “A mulher me deu”. E a culpa é da mulher. Pobre mulher! Devemos defender as mulheres! Na realidade, quase todos os homens e as mulheres gostariam de uma segurança afetiva estável, um matrimônio sólido e uma família feliz. A família está no topo de todos os indícios de satisfação entre os jovens; mas, por medo de errar, muitos não querem nem mesmo pensar nisso; mesmo sendo cristãos, não pensam no matrimônio sacramental, sinal único e irrepetível da aliança, que se torna testemunho da fé. Talvez justamente esse medo de errar seja o maior obstáculo para acolher a Palavra de Cristo, que promete a Sua graça à união conjugal e à família
O testemunho mais persuasivo da benção do matrimônio cristão é a vida boa dos esposos cristãos e da família. Não há modo melhor para dizer a beleza do sacramento! O matrimônio consagrado por Deus protege aquele laço entre o homem e a mulher que Deus abençoou desde a criação do mundo; e é fonte de paz e de bem para toda a vida conjugal e familiar. Por exemplo, nos primeiros tempos do Cristianismo, esta grande dignidade do laço entre o homem e a mulher derrotou um abuso considerado então de tudo normal, ou seja, o direito dos maridos de repudiar as esposas, mesmo com os motivos de maior pretexto e humilhantes. O Evangelho da família, o Evangelho que anuncia justamente este Sacramento derrotou esta cultura de repúdio habitual.
A semente cristã da radical igualdade entre os cônjuges deve hoje dar novos frutos. O testemunho da dignidade social do matrimônio se tornará persuasivo justamente por este caminho, o caminho do testemunho que atrai, o caminho da reciprocidade entre eles, da complementaridade entre eles.
Por isso, como cristãos, devemos nos tornar mais exigentes a esse respeito. Por exemplo: apoiar com decisão o direito à igual retribuição por igual trabalho; por que se supõe que as mulheres devem ganhar menos que os homens? Não! Têm os mesmos direitos. A disparidade é um escândalo puro! Ao mesmo tempo, reconhecer como riqueza sempre válida a maternidade das mulheres e a paternidade dos homens, em benefício sobretudo das crianças. Igualmente, a virtude da hospitalidade das famílias cristãs reveste hoje uma importância crucial, especialmente nas situações de pobreza, de degradação, de violência familiar.
Queridos irmãos e irmãs, não tenhamos medo de convidar Jesus para as festas de núpcias, de convidá-Lo para a nossa casa, para que esteja conosco e proteja a família. E não tenhamos medo de convidar também sua mãe Maria! Os cristãos, quando se casam “no Senhor” são transformados em um sinal eficaz do amor de Deus. Os cristãos não se casam apenas para si mesmos: casam-se no Senhor em favor de toda a comunidade e de toda a sociedade.
Desta bela vocação do matrimônio cristão, falarei também na próxima catequese.